Nos dias 26 e 27 de Agosto, no auditório do departamento de Engenharia de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina, aconteceu a primeira formação dos professores e auxiliares pedagógicos e de ensino da escola Vitor Miguel no âmbito do Programa Um Computador por Aluno – PRO-UCA SC. Como responsáveis pela formação estavam a professora Barbara Giese e Diego Ramos.
A formação teve como eixo central a reflexão em torno do uso das TIC´s na sala de aula. A noção de que a tecnologia não é apenas um novo instrumento, uma mera maquina, mas que se constitui como uma nova linguagem, é essencial se queremos um uso pleno e autonômo destas novas formas de comunicação. Nesse sentido foi apresentado, no primeiro momento da formação, uma palestra do Prof. Luli Radfahrer, objetivando exatamente sensibilizar os participantes da formação para pensarem a tecnologia não mais como instrumento, mas, acima de tudo, como linguagem. Uma reflexão corolária a esta é a de que, em sendo uma linguagem, ou a escola abandona os jovens nesse espaço virtual – como foi feito com a televisão – ou ela se responsabiliza pela educação destes jovens, pela sua alfabetização mesmo, ensinando-lhes formas seguras e construtivas de partilharem este novo espaço.
Para que as potencialidades geradas pela inserção desta nova linguagem não se esvaziem é necessário que pensemos também no modo como está constituído e se constitui esse ambiente escolar. Para incitar essa reflexão foram trabalhadas partes do livro “Catadores da cultura visual” de Fernando Hernández[1]. O objetivo nesse momento foi pensar sobre as diferentes “narrativas da escola”: como as diferentes formas de entender o ambiente escolar e a atividade educacional podem, aliadas as novas formas de comunicação, transformar a escola ou, ao contrário, como as formas rígidas e arraigadas de pensar a escola podem “domesticar” as novas comunicações a ponto de esvaziá-las de qualquer capacidade de transformação.
A segunda parte da manhã do primeiro dia foi dedicada a uma oficina de fotografia. Esta oficina envolveu, no primeiro momento, a sensibilização do olhar dos participantes. Essa sensibilização foi promovida através da apresentação de slides comentados pela Professora Bárbara e teve como um dos objetivos principais chamar atenção para a relação entre forma e conteúdo: a forma como o conteúdo é capturado e apresentado acaba por transformar o próprio conteúdo. Essa reflexão extrapola o campo da fotografia e faz pensar sobre a forma como o conteúdo escolar é apresentado aos alunos, como, do mesmo modo que na fotografia, a estrutura/forma altera o conteúdo.
Após essa sensiblização do olhar em relação a fotografia, os participantes da formação dividiram-se em grupos e realizaram uma atividade que envolvia fotografar tendo como referência a forma e não o conteúdo. As instruções recebidas foram as seguintes: uma primeira pessoa do grupo tira uma foto considerando uma certa estrutura, em seguida outro participante olha a foto recém tirada e tenta capturar outra imagem levando em consideração a estrutura proposta na foto anterior, assim por diante até que todos os integrantes do grupo tenham fotografado. É importante notar que foi permitido às pessoas olharem apenas a foto tirada pelo último a fotografar, e não todas as fotos do grupo.
Essa oficina de fotografia tomou toda a segunda parte da manhã do primeiro dia, os resultados e discussão sendo trabalhados após o almoço. As fotos foram projetadas para todo o grupo da formação e discutiu-se quais eram as estruturas que estavam em jogo em cada fotografia. É interessante observar como a cada fotografia a estrutura percebida e replicada era resignificada. Como, a partir de uma ou outra estrutura destacada, os elementos das fotos ganhavam este ou aquele signifcado.
No segundo dia de formação, pela manhã, discutiu-se os modelos de currículos. Foi proposta uma atividade em grupo que consistia em formar frases com conceitos dos modelos curriculares “tradicional”, “crítico” e “pós-moderno”. Após a socialização das frases dos grupos ficou claro o distanciamento entre os modelos “crítico” e “pós-moderno” e o ambiente escolar. Apenas as frases formadas com os conceitos do modelo “tradicional” de currículo tinham, todas elas, como contexto o ambiente escolar. As outras extrapolavam o ambiente da escola ou, em alguns casos, não se relacionavam em nada com a atividade educativa. Após essa atividade discutiu-se os diferentes modelos curriculares e propostas de projetos pedagógicos.
A tarde do segundo e último dia de formação foi reservada para os professores conhecerem o Classmate. Mesmo sem os laptops na escola, naquele momento, a equipe de formação entendeu que seria profícuo os professores terem um primeiro contato com o computador. A atividade planejada consistia em uma navegação inicial pela internet, tarefa que foi impedida pela impossibilidade de todos conectarem-se na rede. Foi feito, então, um tour guiado através das principais ferramente do laptop, além de suas funções de configuração básicas. Quase todo o período da tarde foi reservado a esta atividade, com exeção da última hora, momento em que foi realizada a avaliação da formação.
[1] HERNÁNDEZ Fernando. Catadores da cultura visual: propostas para uma nova narrativa educacional. Porto Alegre: Editora Mediação, 2007.
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